sábado, outubro 13

INCONFORMISMOS POÉTICOS DÃO ADEUS ÀS GAVETAS



Luiz Fernando Gomes, professor da Uniso, acaba de lançar o livro 'Palavrando', que reúne poesias escritas anos atrás

Ele desenterrou as palavras escritas há 30 anos e agora as devolve à superfície em quase 150 páginas de delicados inconformismos. Doutor em Linguística Aplicada e professor do curso de Letras e de Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade de Sorocaba (Uniso), Luiz Fernando Gomes acaba de lançar seu primeiro livro "não acadêmico", o "Palavrando - Inconformismos Poéticos", pela editora Crearte, explorando outra faceta de sua pesquisa com linguagens. "Usei o papel como suporte, mas explorei a linguagem multimodal, combinando texto com imagem, tentei fazer como se fossem poesias visuais", explica Gomes, adiantando ao leitor que, além dos poemas, utiliza no livro imagens também criadas por ele.
Os poemas que constam na obra já foram escritos há anos e estavam engavetados. "Estavam num canto, esperando baixar toda poeira, toda a carga de emoções que continha neles. Queria saber até quando eu seria a mesma pessoa, depois de mudanças e mais mudanças somos mais ou menos os mesmos", fala ele, que voltou a abrir as gavetas no ano passado. Passados 30 anos, conta ele, viu que apesar do passar do tempo continua sentindo e vendo o mundo do mesmo jeito, e decidiu publicá-los. "É uma fase da vida da gente que começamos a olhar para o que a gente já fez e está pretendendo. Estava tentando entender como estavam as minhas emoções com relação a uma série de coisas... Os poemas são tão doidos como eu, mas melhores do que eu", considera.
Experiente na publicação de livros acadêmicos, o autor conta que expor suas angústias, reviver momentos, não foi uma experiência fácil. "Nos dois outros livros (acadêmicos), eu tinha apoio teórico, pesquisa, mas nesse a gente fica nu", compara ele, que percebeu um certo inconformismo - mas não uma revolta - sempre presente em sua obra, por isso o subtítulo. De acordo com ele, quando tinha que apresentar os livros sobre seus projetos de pesquisa acadêmicas às editoras, chegava firme e confiante de si, no entanto, quando procurou a editora para apresentar seus poemas "falava quase embaixo da mesa", conta sobre a produção, que foi apreciada pelo professor Armando Oliveira Lima, muito antes de Gomes pensar em publicar. Aliás, a importância de Armando e de Agenor Oliva de Morais Júnior para a publicação é explicitada logo no início da obra, em forma de homenagem.
Sem especificar nomes, Gomes conta que suas referências são a soma de muitos poetas que leu. "Eu, no meu caso, li muitos deles, está cheio de poetas muito bons, mas na hora de escrever tento não pensar neles, tento traduzir as imagens em palavras, as minhas poesias são imagéticas", conclui. Na apresentação do livro, o professor e teatrólogo Roberto Gill Camargo escreve que o livro é uma confissão, quase uma autobiografia em verso, metáforas e referências. "À medida que folhamos o livro, deparamo-nos com impressões, conceitos, inquietações, descrições de momentos, dor e prazer de existir e ao mesmo tempo de questionar a rotina, a palavra, o amor, a natureza", resume.

O livro "Palavrando - Inconformismos Poéticos", de Luiz Fernando Gomes está à venda na Livraria Nobel do shopping Villàggio (Praça Pio 12, Santa Rosália), por R$ 20. Interessados também podem adquiri-lo através de contato direto com o autor, através do email: luiz.gomes39@gmail.com.



A Paisagem

"A Paisagem
Não muda a cada viagem
Mudo eu
Assisto à sua passagem da janela
Da pista
De mim
Árvores são árvores
Eu não
Sou quinze vinte trinta anos
Diferente
Transformo contagio
Insisto Revisto
Minha poesia vai e vem
Apenas meu nome se mantém"



Lanço meu poemas

"Lanço meu poemas
Num momento em que duvido deles
E duvido de mim
Não sou poeta
O que há é um eco sem fim
De palavras gritando aquidentro
E nessas folhas velhas de
gaveta. Os versos desse livreto
São um engano
Traições de uma caneta Bic
Talvez você se preocupe em ler
Talvez a palavra escrita o in­comode
Mas tire o band-aid devaga­rinho
O livro é uma chaga aberta
Que dói diariamente
E duvide, amigo, dos versos,
das canções
Das aparências
E duvide do que eu digo"



Maíra Fernandes

Nenhum comentário:

Postar um comentário