quinta-feira, março 31

JOSÉ DE ALENCAR




No dia em que tremerem os guardas da casa, e se encurvarem os homens fortes, e cessarem os moedores, por já serem poucos, e se escurecerem os que olham pelas janelas;

E as portas da rua se fecharem por causa do baixo ruído da moedura, e se levantar à voz das aves, e todas as filhas da música se abaterem.

Como também quando temerem o que é alto, e houver espantos no caminho, e florescer a amendoeira, e o gafanhoto for um peso, e perecer o apetite; porque o homem se vai à sua casa eterna, e os pranteadores andarão rodeando pela praça;

Antes que se rompa o cordão de prata, e se quebre o copo de ouro, e se despedace o cântaro junto à fonte, e se quebre a roda junto ao poço,

E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu.


ECLESIASTES, 12; vers. 3 ao 7.

TODA HORA É HORA DE VIRGINIA WOOLF



Cauê Hernandes do Amaral completou recentemente 16 anos. Aliás, 16 é o número de obras que possui uma das mais importantes e talentosas escritoras britânicas, Virginia Woolf, que há exatos 70 anos vestiu um casaco, encheu seus bolsos com pedras e entrou no Rio Ouse, afogando-se. Mesmo com a pouca idade, Cauê é fã de Virginia, o que prova que mesmo passado tanto tempo, a escritora, que inspirou uma legião de outros bons escritores, continua atual.
O jovem, que já leu a maior parte das obras da escritora traduzidas para o português, desconhecia a data do suicídio de Virgínia, 28 de março (ontem), mas não a data de nascimento, 22 de janeiro. Muito mais significativo para alguém que, há três anos, se rendeu ao que chama "fluxo de pensamento" da escritora (técnica conhecida como "fluxo de consciência" que consiste em explorar a temática psicológica; o termo foi apropriado da psicanálise).
Dignosticada como depressiva, Virginia conseguiu escrever, entre outras coisas, um daqueles romances que viram obra-prima, o livro "Mrs. Dalloway". E foi através da adaptação da vida de Woolf enquanto escrevia o romance, que acabou chegando aos cinemas como o filme "As Horas", baseado na obra homônima de Michael Cunningham, que Cauê começou a se interessar pela escritora.

As Horas de Woolf
Era 2008, quando Cauê assistiu ao filme "As Horas" pela primeira vez. Na ocasião, a produção foi recebida pelo garoto sem muitos alardes. Logo mais, voltou a assistir e começou a se atentar mais para o enredo. Depois, vieram muitas outras sessões, até que, não satisfeito, foi atrás de mais informações sobre aquela mulher. Assim, iniciou sua pequena e particular coleção que vai de biografia à clássicos, passando por livros do início da carreira da autora, ainda sem o peso da escrita dos últimos livros.
Começou com "As ondas" e agora aguarda uma caixa comemorativa com alguns livros que faltam à coleção - presente de aniversário que ganhou do pai -, que deve chegar na segunda quinzena de abril. Já leu todos e, diferente da maioria, não classifica "Mrs. Dalloway" como seu preferido. O romance narrado em um dia não arrebatou o jovem, que prefere "As ondas". Aliás, como bom conhecedor, reforça a paixão de Virgínia pela praia.
Os anos de envolvimento com a obra da escritora também o permitiram a liberdade de, hoje, dizer tranquilamente que não consegue mais ver Virginia Woolf na interpretação que Nicole Kidman fez para "As Horas" (e lhe rendeu um Oscar). Para ele, o enredo consegue ser um tanto simplista ante o talento e os tormentos da escritora.

Começando em casa
O jovem conta que, devido a sua paixão, acabou apresentado a escritora aos amigos. Hoje, trocam livros de Virginia e mantêm um círculo da leitura que foge do padrão da chamada literatura juvenil. Aliás, em sua biblioteca, estão outros nomes como Woody Allen, Marcos Rey e Érico Veríssimo.
Claramente tendo Virginia como maior ícone literário, reforça que o hábito de leitura não nasceu do nada, ou foi fomentado na escola. "Meu pai e minha mãe sempre leram", recorda, esclarecendo que o momento destinado à leitura, em sua casa, é tão sagrado quanto o da refeição.




Este texto é da jornalista Maíra Fernandes (saudades de ti, guria...) publicado ontem, no jornal Cruzeiro do Sul (Sorocaba) e li com uma alegria imensa pois Cauê, é filho do Júnior, meu grande amigo; e conhecendo o pai, fica fácil de entender a trajetória do filho.
Continuei a ler o jornal, de trás pra frente ( não me pergunte por que faço isso...) e heis que encontro outro texto, muito bom, dessa vez do meu orientador, Prof. Dr. Luis Fernando Gomes, e lendo este, um delicado rizoma se formou, e eu pude enxergar de forma global a epistemiologia do conhecimento, como "ondas" que rebentam uma pós outra, se sobrepondo harmoniosamente. 

...Porém, nem sempre essa aprendizagem ou esses interesses ocorrem no âmbito da educação formal, que, sabemos, cobre apenas uma parte da nossa formação. De fato, a aprendizagem não-formal é um aspecto extremamente relevante em nossa experiência de aprendizagem, Há uma escola fora da escola.  

terça-feira, março 22

J'ADOUBE - AVELAR DE GOÉS FILHO






Dizemos,  j'adoube quando precisamos de tempo para tocar a peça, no jogo de xadrez, com o único intuito de arrumá-la...
Hoje, tive vontade de dizer esta palavra... Quando minhas crianças (alunos), contaram que o professor de Educação Física Avelar, do colégio Primavera (Salto de Pirapora), faleceu! Jogou-se ao mar, ou contra o mar, arrastando seu filho de nove anos que as águas tentavam levar ...
Professor, In memoriam, não esquecerei mais de guardar a casa f da Ala do Rei...


  Gens una sumus




domingo, março 20

METAMORFOSES



Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio...
O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite...Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida?
Com efeito, a primavera quando surge, é semelhante à criança nova... A planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente. Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem.Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos. Também nossos corpos mudam sempre e sem descanso...E também a Natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados...todos os seres têm sua origem noutros seres. Existe uma ave a que os fenícios dão o nome de fênix. Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia. Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, renasce uma pequena fênix, que viverá outro cinco séculos... Assim também é a Natureza e tudo o que nela existe e persiste. 

Eu li, este poema há uns dez anos atrás, quem indicou foi um adorável professor, Paulo Borges. Hoje, revendo os conteúdos de filosofia me deparei com "metamorfoses"... Escrito no ano 8 d.C. (sinto-me honrada por ler isso), por Ovídio, consiste em uma das obras mais importantes do Ocidente europeu.
O trecho acima é a parte final, a obra completa é dividida em quinze livros! Eis aqui, uns dos tesouros que ainda procuro pelas prateleiras de sebos...rs...
Bem, transcrevo hoje este poema, que fala da mudança, da renovação e da repetição, do nascimento e da morte, da maturidade, para três pessoas; Márcia Renata, Marcelo Conte e Angela Maria... Vê-los, me dá força para seguir, acreditar que também posso superar minha imanência e renascer quantas vezes for preciso... Saudades, amigos!

sábado, março 12

DE MALAS PRONTAS...


Hoje meu dia foi praticamente "Peggy Sue, seu Passado a Espera"... Entrei na Livraria Nacional  (Sebo -Sorocaba), e achei linda a imagem; meia luz, uma moça grávida limpando páginas meio a um oceano de livros... Era Maria, funcionária há muitos anos do sebo, juntamente com seu esposo Pedro. Bom, conversando descobri que "estamos" de mudança! Sim, "estamos", porque este sebo faz parte da minha história e vendo tudo encaixotado, foi inevitável não lembrar da minha relação tão antiga e delicada com aquele espaço de magia, luz, sombras, letras e pó!  
A maravilhosa cidade das Esmeraldas, abriu-se pela primeira vez a mim ainda quando eu era apenas uma criança... Lembro que meu pai foi comprar livros "velhos" para eu recortar as letras... Nossa!!!! Aqueles corredores abarrotados de livros, aquele cheiro de porão e as luzes...? Ah, as luzes, um espetáculo a parte... O sebo ficava em baixo, frente a uma ponte, onde mil carros passavam jogando para dentro da loja empoeirada mais mil reflexos do sol... Depois fui voltar na quinta série, por causa de uma pesquisa, e nunca mais saí... Lembro que tomamos um xingo uma vez; eu Tiago e Georgia, do Eduardo (dono), pois a Georgia, tirou a bola de vôlei da minha mochila e começou a jogar lá dentro, enquanto o Tiago com dois sorvetes na mão ficava "apavorando", perguntando se já havia encontrado o livro, derramando sorvete por todo o corredor... Depois, fui embora e só nas férias eu podia visitar meu pequeno esconderijo! Muitos livros, muitas amizades e um encanto que nunca se arrefeceu! Perdi um amigo, André, o melhor companheiro daquele labirinto... Ele era perito em encontrar preciosidades, e generoso o suficiente para deixá-los para mim... Lembro que passávamos tardes e mais tardes de inverno silenciosamente andando pelos corredores, quase em uma dança, sentando no chão, folheando calmamente cada página, retendo-se nas figuras, exultando com as dedicatórias! Ele me apresentou naquele ano Nietzsche, Maquiavel e sorvete no inverno...
Tantos anos depois, com uma biblioteca particular considerável, cheguei em casa da maternidade, coloquei meu bebê na cama, escolhi um cd da Nina Simone e iniciei a leitura de Trabalhadores do Mar a Giovana, e lá estava o carimbo circular do sebo nacional! E hoje, ela com dois anos, corre pelos mesmos corredores e abraça com seus bracinhos curtos mais livros que consegue carregar... E a roda da vida, gira...
E sabe o que é mais estranho e totalmente sem importância, mas adorei? O sebo está mudando para a loja da antiga gráfica da minha sobrinha...Fiquei tão feliz... "Meus livros", estarão bem...
Hoje, trouxe comigo Crepúsculo dos Ídolos (Nietzsche) e o Pêndulo de Foucault (Umberto Eco), este último causou-me uma alegria imensa, pois há muito o procuro! Ah, tem um acoleção fechada de Simone de Beauvoir, em ótimo estado... Uh, acho que vou voltar, lá...rs...
Convido a todos a visitarem a nova loja, que continuará no centro, porém na rua Professor Toledo nº 114.
Bom final de semana, a todos!!! Beijos.