domingo, março 20

METAMORFOSES



Não há coisa alguma que persista em todo o Universo. Tudo flui, e tudo só apresenta uma imagem passageira. O próprio tempo passa com um movimento contínuo, como um rio...
O que foi antes já não é, o que não tinha sido é, e todo instante é uma coisa nova. Vês a noite, próxima do fim, caminhar para o dia, e à claridade do dia suceder a escuridão da noite...Não vês as estações do ano se sucederem, imitando as idades de nossa vida?
Com efeito, a primavera quando surge, é semelhante à criança nova... A planta nova, pouco vigorosa, rebenta em brotos e enche de esperança o agricultor. Tudo floresce. O fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor às folhas. Entra então, a quadra mais forte e vigorosa, o verão: é a robusta mocidade, fecunda e ardente. Chega, por sua vez, o outono: passou o fervor da mocidade, é a quadra da maturidade, o meio-termo entre o jovem e o velho; as têmporas embranquecem.Vem, depois, o tristonho inverno: é o velho trôpego, cujos cabelos ou caíram como as folhas das árvores, ou, os que restaram, estão brancos como a neve dos caminhos. Também nossos corpos mudam sempre e sem descanso...E também a Natureza não descansa e, renovadora, encontra outras formas nas formas das coisas. Nada morre no vasto mundo, mas tudo assume aspectos novos e variados...todos os seres têm sua origem noutros seres. Existe uma ave a que os fenícios dão o nome de fênix. Não se alimenta de grãos ou ervas, mas das lágrimas do incenso e do suco da amônia. Quando completa cinco séculos de vida, constrói um ninho no alto de uma grande palmeira, feito de folhas de canela, do aromático nardo e da mirra avermelhada. Ali se acomoda e termina a vida entre perfumes. De suas cinzas, renasce uma pequena fênix, que viverá outro cinco séculos... Assim também é a Natureza e tudo o que nela existe e persiste. 

Eu li, este poema há uns dez anos atrás, quem indicou foi um adorável professor, Paulo Borges. Hoje, revendo os conteúdos de filosofia me deparei com "metamorfoses"... Escrito no ano 8 d.C. (sinto-me honrada por ler isso), por Ovídio, consiste em uma das obras mais importantes do Ocidente europeu.
O trecho acima é a parte final, a obra completa é dividida em quinze livros! Eis aqui, uns dos tesouros que ainda procuro pelas prateleiras de sebos...rs...
Bem, transcrevo hoje este poema, que fala da mudança, da renovação e da repetição, do nascimento e da morte, da maturidade, para três pessoas; Márcia Renata, Marcelo Conte e Angela Maria... Vê-los, me dá força para seguir, acreditar que também posso superar minha imanência e renascer quantas vezes for preciso... Saudades, amigos!

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