quinta-feira, julho 7

NAQUELA ESTAÇÃO




...Se nunca a tivesse visto, provavelmente me apaixonaria naquele instante. Rosto de beleza clássica, com um cabelo loiro, corte Chanel, as maçãs do rosto muito arredondadas, róseas e com penugem de pêssego, olhos verde mar, dentes perfeitos, sorriso largo como a própria estação que acabara de entrar. Tudo denunciava a ascendência russa. O corpo lindo, de camponesa italiana — seios volumosos de quem deixara a adolescência a pouco, ancas de dar tremedeira em padre. Complementava com uma roupa cotidiana que, como toda mulher inteligente e sutil, acentuava seus dotes: tamanco, calça jeans que caia sob medida em seu corpo, camiseta azul marinho novinha, novinha, e um moletom, daqueles de botão, rosa claro, fazendo contraponto com suas maçãs protuberantes. Era a primeira vez que a via com aquele cabelo.
Fazia dez minutos que o trem havia partido. Silvana estava ali, no banco daquela estação que eu conhecia desde minha infância. Quando me viu abriu aquele enorme, avassalador, inenarrável sorriso. Largou as malas, veio com toda aquela vontade que só uma mulher jovem e apaixonada tem por seu homem, me tascou um beijo inesquecível. No início de outono, com o frio costumeiro de Mairinque do começo dos anos noventa, aquela imagem se tornou por muitos anos (devo confessar que até hoje) o que representa a felicidade pra mim, cravada num só instante.
Maurício Toco.
Leia na íntegra:
http://naquelestacao.wordpress.com/category/memoria/

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Este é um amigo, que cada vez terei menos contato, os trilhos bifurcaram e cada um tem seu caminho...Mas é justamente aquele, que guardarei com o cuidado de quem leva um relicário no peito...
Sua voz de trovão, sua boêmia e seu gênio de espanhol bravo, se perdeu pra mim há muitos anos atrás, em uma noite terrível, onde um feixe do porvir, se mostrou, e eu não tinha estrutura alguma pra ser gente grande. Ele foi, o amigo, que sentou ao meu lado, frente ao mais belo, selvagem e aterrador mar, que já vi (Ilha do Cardoso), e escutou silenciosamente eu chorar por horas e horas...Quando parei, ele falou...Aí entendi o que era ter um irmão mais velho...
Quando fui me casar, eu o escolhi como padrinho! Engraçado, é que expliquei, a ele e a minha sobrinha (madrinha), que poderiam ir a "paisana", no civil, pois seria algo muito simples...Ele chegou de terno e gravata... Estava mais bem arrumado que a noiva...rs... Aí, comentei com meu ex-esposo, que jamais esqueceria aquela delicadeza, afinal quem o conhece sabe o quanto ele é alheio a convenções e formalidades, aí o Boi (meu ex-marido) falou algo que me tocou profundamente: "Esse é o jeito de fazer as coisas, de um mairinquense..."
Toco, qualquer dia vou lhe ver tocar, fica com Deus!!!



There's a slow, slow train comin' up around the bend.

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