sexta-feira, maio 24

NAQUELA ESTAÇÃO - BOTUCATU A RAZÃO DAS MEMÓRIAS


"A sensação nostálgica que tive andando com Fábio pela noite em Botucatu, naquele junho de 2007, talvez tenha sido uma dessas tentativas de buscar nos tijolos e concretos algo que só estava em minha cabeça. O ponto é que eu não sabia que passado era esse que tentava achar. Hum… achei esses dias na minha caixa de e-mail.
Li seu nome na tela. Minha memória foi pegando no tranco. Será que era quem eu estava pensando? Fazia mais de 25 anos que nos separamos. Seria ela? Sim. Era. Mesmo estando do outro lado do país, alguns filhos, um marido alemão. Ela também não sabia se eu era eu. Se eu era aquele seu antigo namorado de 1985. E era.
Quando muito novos nós ficamos um tempo juntos. Clarissa. Clarissa Veloso Raschietto. A conheci em Mairinque, naquele já distante e dito 1985. Tinha parentes por lá. Foi uma das primeiras paixões da era de descobertas. Fui sempre assim, um cara que parece procurar amores difíceis. Ela era assim. Distante, uns 200 quilômetros que pareciam um milhão. Cabelo rebelde, pele branca, era uma mistura das duas etnias, negra e branca.
Visitei sua casa umas vezes. Uma, no natal, com meu camarada, o Gelo — aquele que trampava na Ferplast e fazia percussão no Sisal. Apesar do verão, a cidade era fria. Chegávamos à estação, que tinha ali uma cantina em que se vendia de tudo. Tomamos um café e logo ela chegou, com irmã e mãe. Lembro da casa em que foi a festa, em sua avó. Tinha um quintal com uma parreira de uvas imensa. Só entrava alguns fachos de sol. A beijei ali, muitas e muitas vezes. Claro que nos momentos de folga da vigília, pois sempre tinha um cão de guarda por perto. Eu com 16, ela, acho que com uns 14. A praça da igreja, iluminada com lâmpadas de natal. A noite, ora quente, ora gelada. Tudo muito leve. Parecia o toque de sua mão, o resvalo de seu lábio."

MaurícioToco

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