domingo, junho 10

ISMÊNIA ROGICK


Ao abrir hoje o jornal e ver Ismênia, meu dia ficou leve... Eu tive a honra de ter aula com esta linda bailarina, e ver de perto seu processo de criação, é algo que nunca vou esquecer. Era um bando de adolescentes, creio que chegávamos a quarenta na Oficina Grande Otelo! Ela simplesmente nunca perdia o domínio da sala, sempre doce, sempre incansável!!!!! Um dia nos fez deitar, fechar os olhos e escutar "Meu guri" (Chico), e cada um depois tinha que refletir sobre a letra e a partir disso expressar através da dança! Incrível o grau de complexidade de reflexão através do corpo que quarenta adolescentes juntos podem criar, quando existe alguém para guiá-los....
Parabéns pela trajetória, linda bailarina!
Segue a reportagem, feita magistralmente pela minha amiga Maíra (saudades, guria!):

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Ela não saiu de dentro de uma caixinha de música, mas poderia. Aos 56 anos, Ismênia Rogich passou pelo menos 50 deles entre saltos e rodopios de leveza e precisão, apresentando-se em palcos do Brasil e do mundo. Descobriu recentemente, em uma vistoria nos seus guardados, que foi precisamente em uma data como hoje, em 10 de junho, que deu início a essa maratona de vida. "Não fiquei nem um ano sem pisar em um palco durante esses 50 anos", entusiasma-se.
Uma das mais importantes bailarinas sorocabanas, Ismênia pensa em produzir algo para comemorar a data. Ainda não sabe o que será, mas deverá ocorrer no final do ano. "Minha vida é toda misturada à dança. Tive e criei filhos com a dança. Não sei se escolhi fazer isso ou se fui escolhida", observa a bailarina, que resolveu arriscar seus primeiros passos dentro da sapatilha ainda muito criança, por influência de seu pai, o fotógrafo Rogich Vieira. "Meu pai gostava de cinema, então assistia filmes com ele e não lembro em qual deles vi a dança e fiquei apaixonada", relembra. A menina começou em boas mãos, e teve como sua primeira professora a bailarina Janice Vieira, a quem devota gratidão e admiração. Com três meses de aula, recorda, já estava dançando. "E olha, depois eu dei aula para a Andréia!", conta, lembrando que foi professora da filha de Janice, a também bailarina Andréia Nhur.
A bailarina Ismênia Rogich conta que - como a dança nunca saiu dela e tampouco ela da dança - na idade de prestar vestibular procurou algum curso relacionado com esse universo (como há hoje na Unicamp, em Campinas), mas naquele tempo, não havia nada por perto. Não prestou vestibular para nenhum curso, mas prosseguiu fortemente nos palcos, com a ajuda e apoio da família que, como reforça, "tem alma de artista".
Por mais de 20 anos integrou um dos mais renomados balés do Brasil, o Ballet Stagium, com o qual excursionou por diferentes palcos e em 1993 voltou à Sorocaba. "Me apresentei em quase todos os palcos do Brasil inteiro. E quando não havia palco, nos apresentávamos na rua mesmo".
Atualmente Ismênia dirige o Corpo de Baile do Município de Salto (onde reside atualmente), e dá aulas em uma academia em Sorocaba e ainda não sabe se dirá sim ou não, a um convite recebido recentemente para dar aulas em São Paulo.
Como sorocabana, cobra a criação de um Corpo de Baile na cidade. "Precisa de um Corpo de Baile oficial na cidade. Campinas tem, Salto tem uma, muitas cidades têm e Sorocaba não. Tentei algo assim há alguns anos, mas fui convidada para dirigir a Cia. de Salto e optei por ficar por lá", alfineta a bailarina, mas sem perder a peculiar delicadeza.

Peso pluma
É fácil entender que, em meio século de apresentações, em diversos palcos e situações, pincelar alguns momentos mais marcantes na memória chega a ser um trabalho hercúleo, mas Ismênia não se intimida. Dentre suas lembranças, além das pessoas com quem conviveu e dividiu palco, estão as reações do público as que mais marcaram a artista. "Lembro de uma apresentação que fizemos na Espanha, onde ao final do espetáculo o público aplaudiu com batidas ritmadas. Foi lindo! Também lembro da vez que estivemos nos apresentando na Hungria e quando terminou o espetáculo, os aplausos vieram em câmera lenta", recorda a bailarina, provando a máxima de que o aplauso é o termômetro do artista.
Mas não são apenas as glórias de um momento como o reconhecimento que coroam a lembrança de Ismênia. No final da década de 1970, enquanto se apresentavam na Nicarágua, dentro de um belo teatro, a movimentação fora era de soldados munidos de metralhadora, resquício do que foi batizado como Revolução Sandinista. "Mas a dança é tão boa, tão maravilhosa que estava tudo destruído por conta da guerra mas aquele teatro não sofreu nada", emociona-se.
Ismênia não pensa em voltar para a "caixinha". Quer envelhecer com a mesma leveza característica das bailarinas aladas. Mesmo assim, determina como encerrada sua carreira como bailarina de uma Companhia. "Quero trabalhar de forma mais individual", assume ela, claramente mais voltada à liberdade de criação possibilitada pela dança contemporânea, mais do que com a clássica, à qual sempre se dedicou. "Mas a formação clássica é importante, é base", ensina.









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