quinta-feira, abril 14

ESTÁ TUDO CERTO

Ontem sobe o céu mais violeta que já vi, chorei... E ri também... Engraçado como o mais desgraçado dos dias, tem sua beleza.
No ponto de ônibus, cansada, molhada dos pés a cabeça,com fome, esperando por ônibus que passavam e não paravam, tentando segurar minha saia, como última tentativa de manter minha dignidade frente a homens que provavelmente nem se conheciam, mas unidos em uma espécie de irmandade atemporal divertiam-se, rindo, vendo meu desespero. Um segundo e... Todos os meus papéis alçaram voos se espalhando pela avenida; corredeiras, bueiros, vidros dos carros... E eu ali, embaixo da tempestade, me perguntando por que? Será que não há um limite? Não está bom acordar as cinco e meia da manhã, ficar longe do meu anjo, comer quando dá, lavar roupa a noite, estudar de madrugada, aprender um segundo idioma sacolejando em um ônibus lotado, e etc, etc, etc,etc,etc... mais?
Então fiquei ali parada, sentindo dó de mim, com raiva daqueles ogros, achando bem feito que minhas anotações tivessem ido pro bueiro, mesmo... Bom, daí a começar a discutir com Deus, foi um passo bem pequeno... Mas, Deus em sua infinita paciência, de pronto me trouxe a mente uma aluna, que vinda do Paraná tinha as mãos abertas da enxada e quando sangrava, a mãe tinha que enrolar as mãos dela com um pano, como a dos outros filhos para continuar trabalhando, e um aluno muito querido que colocou um colete ortopédico devido ao um desvio na coluna e só o retirará daqui sete anos... E lembrar de seus sorrisos, e do quanto são fortes sem saber que são, fez me calar a alma... E eu que sempre odiei "Poliana", me localizei, enxuguei as lágrimas e deixei cair a chuva... Meu corpo  imerso, na gélida ventania já doia menos, e o céu abrindo-se em raios já não me amedrontava... E de repente eu estava cantarolando em minha mente Don't Think Twice, It's All Right (Bob Dylan), tendo um sentido que nunca teve antes... Deixei o ponto, parei de esperar o ônibus, esqueci da saia e segui caminhando sob a tempestade! E aqueles homens, agora tão distantes, já não pareciam tão desprezíveis... Eram só trabalhadores tão cansados quanto eu, achando graça de uma mulher ao vento ...rs... E caminhando a canção cada vez mais se parecia com um "shout", e cada vez mais eu estava perto de casa...


Bem, não adianta sentar e se perguntar porque, baby
Se você não sabe até agora
E não adianta sentar e se perguntar porque, baby
De algum modo não vai concluir
Estou andando nesse caminho longo e solitário, baby
Aonde vou, não sei dizer
Mas adeus é uma palavra tão boa, baby
Portanto direi apenas passar bem...

3 comentários:

  1. Ah... grande Bob Dylan... é outro que vale um mergulho na imensa obra, e, como Chico Buarque, fará todo o sentido se conhecer as letras.
    É na hora difícil que acontece a grande janela pra a reinvenção de si próprio. O que se conquista nessas horas, quando se vence o difícil momento da maneira que vc narra no seu post, é que se cresce, e isso é pra toda a vida.
    Então vá de Bob Marley, o "irmão negro de Dylan":

    "Don't you worry about the things, every little thing is gonna be allright... This is my message to you"
    da canção "three little birds"

    "Não se aborreça por causa das coisas, cada coisinha ficará bem... esta é minha mensagem para você".

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  2. Obrigada,pela mensagem!Escutei as músicas, realmente belíssimas...Eu não conheço a obra de Bob Marley, então talvez esteja errada, mas tive a sensação que tanto Marley quanto Dylan, possuem uma religiosidade quase luterana em suas letras...São como sermões proféticos, cheio de alegorias, dor, redenção e esperança!
    Tenho escutado muito as musicas de Bob Dylan e tenho amado as letras, entretanto em outras vozes...Como diria Alvrico:"Minha cultura, não dá pra tanto"...rs...

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  3. O Caminho da Vida

    O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém nos extraviamos.

    A cobiça envenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódios... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

    Criamos a época da velocidade, mas nos sentimos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.

    Nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.

    Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

    (O Último discurso, do filme O Grande Ditador)
    Charles Chaplin

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