Ontem sobe o céu mais violeta que já vi, chorei... E ri também... Engraçado como o mais desgraçado dos dias, tem sua beleza.
No ponto de ônibus, cansada, molhada dos pés a cabeça,com fome, esperando por ônibus que passavam e não paravam, tentando segurar minha saia, como última tentativa de manter minha dignidade frente a homens que provavelmente nem se conheciam, mas unidos em uma espécie de irmandade atemporal divertiam-se, rindo, vendo meu desespero. Um segundo e... Todos os meus papéis alçaram voos se espalhando pela avenida; corredeiras, bueiros, vidros dos carros... E eu ali, embaixo da tempestade, me perguntando por que? Será que não há um limite? Não está bom acordar as cinco e meia da manhã, ficar longe do meu anjo, comer quando dá, lavar roupa a noite, estudar de madrugada, aprender um segundo idioma sacolejando em um ônibus lotado, e etc, etc, etc,etc,etc... mais?
Então fiquei ali parada, sentindo dó de mim, com raiva daqueles ogros, achando bem feito que minhas anotações tivessem ido pro bueiro, mesmo... Bom, daí a começar a discutir com Deus, foi um passo bem pequeno... Mas, Deus em sua infinita paciência, de pronto me trouxe a mente uma aluna, que vinda do Paraná tinha as mãos abertas da enxada e quando sangrava, a mãe tinha que enrolar as mãos dela com um pano, como a dos outros filhos para continuar trabalhando, e um aluno muito querido que colocou um colete ortopédico devido ao um desvio na coluna e só o retirará daqui sete anos... E lembrar de seus sorrisos, e do quanto são fortes sem saber que são, fez me calar a alma... E eu que sempre odiei "Poliana", me localizei, enxuguei as lágrimas e deixei cair a chuva... Meu corpo imerso, na gélida ventania já doia menos, e o céu abrindo-se em raios já não me amedrontava... E de repente eu estava cantarolando em minha mente Don't Think Twice, It's All Right (Bob Dylan), tendo um sentido que nunca teve antes... Deixei o ponto, parei de esperar o ônibus, esqueci da saia e segui caminhando sob a tempestade! E aqueles homens, agora tão distantes, já não pareciam tão desprezíveis... Eram só trabalhadores tão cansados quanto eu, achando graça de uma mulher ao vento ...rs... E caminhando a canção cada vez mais se parecia com um "shout", e cada vez mais eu estava perto de casa...
Bem, não adianta sentar e se perguntar porque, baby
Se você não sabe até agora
E não adianta sentar e se perguntar porque, baby
De algum modo não vai concluir
Estou andando nesse caminho longo e solitário, baby
Aonde vou, não sei dizer
Mas adeus é uma palavra tão boa, baby
Portanto direi apenas passar bem...